Meses de verão costumam ser a alta temporada para o turismo na capital francesa. Neste ano, entretanto, uma estranha calmaria tomou conta do setor. Montagem com fotos de Camilla Cepeda, Cláudia Silva, Karine Naves, Sarah Lima e Adriana Leal, brasileiras que trabalham em Paris
Montagem/g1
A realização das Olimpíadas em Paris oferece oportunidades profissionais inéditas para brasileiros instalados na França – mas também impacta negativamente no trabalho daqueles que não atuarão diretamente no evento. Os meses de verão costumam ser a alta temporada para o turismo na capital francesa. Neste ano, entretanto, uma estranha calmaria tomou conta do setor.
A fotógrafa e videomaker Camilla Cepeda trabalha há oito anos registrando a visita de estrangeiros de passagem pela cidade. Mas desta vez, o turista tradicional, que vai a Paris para conhecer ou voltar aos principais monumentos, preferiu antecipar a viagem para escapar do agito dos Jogos Olímpicos ou adiá-la para depois que os cartões-postais forem devolvidos à cidade, a partir de setembro.
Camilla já se preparava para uma queda da demanda, já que vários dos principais pontos turísticos parisienses estão ocupados para as competições e os preços da viagem dispararam.
“Muitas agências de turismo que são minhas parceiras no Brasil e mandam clientes para cá me disseram que não embarcaram o público esperado”, relata.
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A goiana tem em mente o impacto dos Jogos de Londres para a capital britânica, há 12 anos: o megaevento esportivo acabou assustando a clientela típica que vai à Europa aproveitar os meses de verão.
“Tenho alguns trabalhos agendados de pessoas que já tinham feito o planejamento da viagem para a Olimpíada. Ou seja, é um outro perfil de cliente que eu vou atender neste período. Não é o perfil habitual do turista que vem e consome Paris em todos os quesitos, desde restaurantes, moda, shopping”, indica a fotógrafa. “O turista que virá a partir da semana que vem é o turista esportivo. Vai ter, mas será pontual: nada comparado ao movimento de julho turístico de Paris.”
Fotógrafa Camilla Cepeda constata que movimento turístico em Paris em julho ‘não tem nada a ver’ com o habitual para o mês
Camilla Cepeda/Acervo pessoal
Na falta de clientes, opção é mostrar a cidade na ‘versão olímpica’
A mineira Karine Naves organiza roteiros turísticos para brasileiros em Paris desde 2017 – e chega à mesma conclusão.
“Em julho, costuma ser o momento em que eu mais trabalho, eu e outros colegas guias. Mas neste ano está sendo atípico, por causa das Olimpíadas”, constata. “Tudo está muito mais caro, as pessoas estão com dúvidas de como vai ser, sobre as dificuldades de locomoção em Paris, as estações de metrô fechadas. Eu vejo que os hotéis estão vazios, não só de brasileiros, mas de outras nacionalidades”, afirma.
Atletas do Brasil e do mundo já ocupam a Vila Olímpica de Paris
Ao perceber que a demanda estaria em queda, Karine não hesitou: decidiu curtir o período ao lado de clientes que se tornaram amigos e estarão na cidade.
“Eu me dei esse tempo para eu poder aproveitar mais as Olimpíadas e não só estar trabalhando”, afirma. De quebra, ela tem mostrado a preparação de Paris para os Jogos para os seus seguidores nas redes sociais.
Na falta de clientes na cidade, a guia turística Karine Naves tem mostrado a preparação de Paris para as Olimpíadas
Karine Naves/Acervo pessoal
Virada à vista?
Nessas horas, nada como a experiência para superar os altos e baixos do métier. Vivendo há quase 30 anos na França, a pernambucana Adriana Leal traz na bagagem da vida outros megaeventos sediados na cidade, como a Copa de 1998 e a Eurocopa de 2016. A aposta dela é que ainda ocorrerá uma virada na situação.
“A gente tem que ter um pouco de calma, sangue frio. Talvez porque eu tenha jogado basquete, eu aguento a pressão e deixo que o jogo comece. Quando o juiz apita e o jogo começa, aí vai!”, compara. “Então estou esperando que, no sábado, depois da abertura, as coisas comecem a evoluir de uma forma mais positiva para o tamanho do evento que temos pela frente”, prevê.
Adriana organiza e recepciona turistas estrangeiros e conta com uma rede de motoristas que, como ela, já têm “gingado” para atender a um volume de trabalho que poderá surgir de última hora.
“O brasileiro gosta de decidir muitas coisas em cima da hora. E quando o show começa, eles ficam animados com o que veem e acabam vindo, até porque surgem promoções ou pacotes interessantes”, diz. “De repente, um dia antes eles me avisam: ‘Tô chegando e quero isso e isso’, e do nada surgem três ou quatro carros de uma vez só que eu tenho que disponibilizar para dali a três horas.”
A guia turística Adriana Leal aposta que o fluxo de turistas aumentará em Paris depois da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos
Adriana Leal/Acervo pessoal
Trabalhar na organização do evento é oportunidade única
Já para aqueles brasileiros envolvidos na realização das Olimpíadas, a “correria” já está intensa há meses. A delegação do Brasil ocupará três grandes espaços relacionados ao evento: os alojamentos da Vila Olímpica, para os atletas; a Casa Brasil – onde ocorrerão eventos abertos ao público, no Parque de La Villette –, e o Castelo de Saint-Ouen, a 600 metros da Vila Olímpica e que servirá de base de apoio para o Time Brasil.
No castelo, monumento histórico da cidade ao norte de Paris, quem estará no comando dos fogões para o tradicional feijão com arroz de cada dia é a cozinheira e empreendedora Sarah Lima. Há 12 anos na capital francesa, a paulista foi selecionada pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para coordenar o serviço de alimentação dos atletas brasileiros.
“Para mim é um desafio muito grande porque é um dos projetos mais longos em que eu já trabalhei e tem toda uma logística específica para este projeto. Ele é mais cheio de detalhes, protocolos, mas está sendo uma experiência muito legal e gratificante para mim e a equipe”, salienta.
A chef de cozinha Sarah Lima, radicada em Paris, é a responsável pela alimentação dos atletas brasileiros durante os Jogos Olímpicos
Sarah Lima/Acervo pessoal
Setor da alimentação brasileira no exterior
Mais de 30 pessoas estão envolvidas ao seu lado nesta missão, entre elas 25 novos cozinheiros brasileiros que foram formados para trabalhar no castelo. Alguns deles, revela Sarah, já começavam a abandonar o sonho de viver na França.
“Isso trouxe esperança para eles de um horizonte diferente, de sair de trabalhos como limpeza, construção civil. Isso está permitindo a eles terem outros objetivos e perspectivas profissionais aqui na França”, comemora. “Tem alguns que estão realmente abraçando a oportunidade com muita vontade de aprendizado e evolução. Para mim, o mais gratificante é isso, é ver que estou conseguindo dar oportunidade e uma visão de futuro para 25 imigrantes.”
Para manter a Casa Brasil abastecida com brigadeiros, a sul-matogrossense Claudia Silva também teve que triplicar o número de ajudantes para enrolar os docinhos. Ela estima que o volume da produção será sete vezes maior que o habitual da clientela na França, onde vive desde 2012 graças ao trabalho como confeiteira de especialidades brasileiras.
“É surreal, um volume nunca antes feito. E a gente sempre pende para contratar brasileiros”, ressalta. “É um período bem bacana para a gente poder divulgar o nosso trabalho e ser mais conhecido, um período fantástico e com certeza nós colheremos mais frutos dele, a longo prazo.”
Cláudia Silva vai abastecer a Casa Brasil com brigadeiros durante a Olimpíada de Paris
Cláudia Silva/Acervo pessoal
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