Economista foi indicado pelo presidente Lula (PT) para substituir o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Aprovação ainda depende do Senado Federal. Gabriel Galípolo, que foi indicado por Lula para a presidência do Banco Central
Pedro França/Agência Senado
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O economista Gabriel Galípolo foi o escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o Banco Central do Brasil (BC) a partir de 2025. Ele assume a cadeira de Roberto Campo Neto em janeiro, caso seja aprovado em sabatina feita pelo Senado Federal.
A indicação foi bem recebida pelo mercado financeiro. Mas há um amplo entendimento de que existem muitos desafios à frente, e conquistar a confiança dos agentes econômicos não será um processo simples.
Além de se provar um nome independente — ou seja, que não irá tomar decisões influenciado pelo poder Executivo —, o futuro chefe do BC terá que trabalhar no combate à inflação sem deixar de lado os efeitos prejudiciais que a taxa básica de juros pode causar à economia.
A taxa Selic está, atualmente, em 10,50% ao ano, valor alto e que é usado como referência por bancos e instituições financeiras para, por exemplo, balizar a oferta de crédito.
Quanto mais elevada a taxa, mais caro fica para pessoas e empresas tomarem crédito — o que diminui investimentos e o consumo das famílias. Em geral, esse ciclo se reflete na economia do país com uma atividade econômica mais fraca.
Quanto mais baixa a taxa, mais a economia se aquece, em um momento que o mercado de trabalho já está bastante preenchido e a inflação encostou em 4,50% na janela de 12 meses, teto da meta que o BC deve perseguir.
Os desafios da condução de Galípolo à frente do BC vão, portanto, muito além do controle da Selic. As decisões se refletem em dados de desemprego, inflação, PIB, dólar e, principalmente, inflação.
O g1 explica, a partir de cinco gráficos, cada um dos cenários abaixo:
Selic
Inflação
Desemprego
PIB
Dólar
Selic
A principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação é a taxa Selic. Quanto mais alta a taxa, mais ela desestimula a atividade econômica, em busca de reflexos de queda nos preços.
Em termos simples, é a lógica da oferta e da demanda: com menos crédito para as pessoas consumirem, menor a tendência de busca por produtos e serviços, o que gera queda de preços.
Veja abaixo a trajetória da Selic, em meio ao combate à inflação:
O movimento de elevação da taxa ocorreu justamente diante dos reflexos da pandemia de Covid-19, período em que os preços dispararam por conta dos impactos da doença nas cadeias de produção, transporte e nas mudanças no padrão de consumo.
Quando os preços começaram a arrefecer, o BC iniciou um ciclo de quedas de juros para não travar demais a economia. Mas o índice de preços ameaça novamente sair do intervalo aceito de cumprimento das metas de inflação do país.
Já se fala no mercado, inclusive, que pode ser necessário subir os juros para manter o controle da inflação. O último relatório Focus, que mostra as estimativas do mercado financeiro para a economia, ainda não mostra essa suspeita, e indicou que a aposta para o fim deste ano é em uma Selic no patamar atual, de 10,50%.
Caso seja confirmado como presidente do BC, um dos principais desafios de Galípolo será como mostrar que segue critérios técnicos na condução da política de juros do país.
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“A cobrança sobre o Galípolo sempre vai ser mais alta. Isso porque ele foi indicado por um governo que, na interpretação do mercado, é mais leniente com a inflação”, diz André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica.
O especialista reforça que Galípolo terá que “passar a serenidade que o BC tanto diz em seus comunicados e atas” e “não cometer o erro de aumentar a taxa de juros de forma prematura”, em meio à pressão do mercado.
Galípolo era visto com desconfiança quando foi escolhido para diretor de política monetária do Banco Central, em maio do ano passado, por ser o ex-número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda.
Com seu comportamento na diretoria do BC, conquistou a imagem de um “nome técnico” ao longo do tempo, e sua indicação para a presidência foi vista com bons olhos pelo mercado financeiro.
Inflação
Caso confirmado para o cargo, Galípolo irá se deparar com o desafio de manter a inflação sob controle, já que, na última divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ela já está no topo da meta.
Em julho, os preços medidos pelo IPCA subiram 0,38% e a inflação acumulada em 12 meses foi de exatos 4,50%. A meta do BC para 2024 é de uma inflação de 3%, mas ela é considerada cumprida se estiver em um intervalo entre 1,5% e 4,5%.
Veja a evolução no gráfico abaixo:
André Galhardo, da Análise Econômica, lembra que o otimismo com uma inflação mais baixa em 2024 foi se desfazendo ao longo do ano, diante de fatores como a disparada do dólar, os impactos do fenômeno El Niño nos alimentos e os conflitos no Oriente Médio.
“Estou menos otimista também em relação ao ano que vem. O Galípolo terá que ficar bastante atento porque, embora a inflação esteja em níveis mais baixos do que já estiveram, ela tem rondado um limite superior”, diz.
De acordo com o último relatório “Focus”, a estimativa do mercado é que a inflação encerre 2024 em 4,25%. Para 2025, a expectativa é de 3,93%.
Desemprego
A taxa de desemprego no Brasil foi de 6,8% no trimestre encerrado em julho. Esse foi o melhor resultado para o período desde 2014 (7%). Na série comparável, é a menor taxa desde o trimestre encerrado em janeiro de 2014 (6,5%).
Veja a evolução para o trimestre terminado em julho a partir de 2021:
Galhardo, da Análise Econômica, projeta que o desemprego seguirá tendência de queda, até encerrar 2024 em 6,4%.
A taxa é um dos indicadores que funcionam como um termômetro da atividade econômica do país e de uma possível pressão nos preços por meio do aumento dos salários. Por isso, é observada de perto pelo mercado, e também pelo BC, para suas decisões sobre juros.
“Se há uma taxa de desemprego muito baixa, há menos trabalhadores à disposição. Portanto, teoricamente, os salários começam a subir — e isso, consequentemente, pode impactar a inflação”, explica o economista. “Mas é um dado que precisa ser observado com cautela.”
Desemprego cai a 6,8% no trimestre terminado em julho
Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, também destaca que o desemprego está beirando o mínimo, com renda real em alta e criação de vagas de trabalho ainda “muito fortes”.
“Atividade muito aquecida vai exigir uma Selic mais alta por mais tempo, o que não era imaginado anteriormente”, diz a economista.
PIB
O PIB do Brasil subiu 0,8% no primeiro trimestre de 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores correntes, a economia brasileira acumulou R$ 2,7 trilhões entre janeiro e março.
Veja a evolução do PIB no gráfico abaixo:
Variação trimestral do PIB brasileiro no 1º trimestre de 2024
Arte/g1
A expectativa agora é para o resultado do segundo trimestre, que será divulgado em setembro. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central, considerado a “prévia” do PIB, registrou uma alta de 1,1% no período.
Andréa Angelo, da Warren Investimentos, reforça que o maior desafio para Galípolo à frente do BC será justamente lidar com uma atividade econômica forte.
“O PIB continua crescendo acima do potencial do Brasil. (…) Então, o maior desafio de Galípolo será deixar a taxa de juros em um patamar que faça a inflação caminhar para a meta sem deprimir tanto a atividade econômica.”
Agentes do mercado projetam que o PIB brasileiro será de 2,43% em 2024. Para 2025, a previsão é de desaceleração, com a economia crescendo 1,86%, conforme o relatório “Focus”.
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Uma taxa Selic elevada tende a diminuir a atividade econômica do país. Por isso, desde que iniciou seu atual governo, em janeiro de 2023, Lula passou a disparar críticas contra o atual chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicado ao cargo em 2018 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Galípolo, apesar de indicado por Lula, também deverá ser pressionado a adotar uma gestão de juros mais baixos, justamente de olho no desempenho da economia do país.
“É importante que o Banco Central atue pela queda inflacionária, mas também não perca de vista que não pode fazer isso penalizando muito a atividade econômica”, afirma Galhardo, da Análise Econômica.
Dólar
Até a última sexta (30), o dólar acumulava uma alta de mais de 16% no ano. A valorização da moeda norte-americana frente ao real é resultado de uma série de fatores, como a alta taxa de juros nos EUA, as preocupações com as contas do governo brasileiro e a escalada das tensões no Oriente Médio.
O dólar mais alto afeta as cadeias produtivas, elevando os custos das empresas e, consequentemente, os produtos finais, com reflexos na inflação.
Veja a evolução da cotação do dólar ao longo do ano:
Além de aumentar preços de itens e insumos importados, o dólar também causa impacto nas commodities. Com a moeda norte-americana mais valorizada, produtores dão preferência a vender para fora do país e receber em dólar, o que reduz a oferta no mercado interno — e afeta o preço.
Na última semana, por exemplo, o dólar teve forte alta e encostou em R$ 5,70. Para ajudar a conter a escalada da moeda, o BC vendeu dólares no mercado, com o intuito de aumentar a quantidade disponível da moeda em circulação e baixar seu preço. Essa é uma das formas diretas de atuação do BC para o controle do câmbio.
Outro desafio vem do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que terá em setembro sua nova decisão sobre os juros do país. Conforme já indicado pelo presidente da instituição, Jerome Powell, a previsão é de corte na taxa — só não se sabe de quanto.
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Os juros dos EUA estão na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano, maior patamar desde 2001. E, mesmo com um corte ainda neste ano, o nível elevado das taxas seguirá dando dor cabeça para o BC brasileiro no ano que vem — já que, quanto mais altos os juros por lá, mais forte fica a moeda norte-americana.
Andréa Angelo, da Warren Investimentos, explica que o momento atual é de dólar forte em nível mundial. “Podemos até estar fazendo o dever de casa no Brasil, mas existe uma atração maior da moeda globalmente.”
“Então, talvez o Galípolo tenha que conviver com taxas de câmbio mais elevadas, justamente por esse momento que a economia global está enfrentando — o que se traduz em uma inflação mais alta”, diz.
A projeção do relatório “Focus”, com estimativas do mercado, é que o dólar vá encerrar 2024 custando R$ 5,32. Para o fim de 2025, a previsão é de R$ 5,30.
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