Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses. A próxima reunião sobre juros está marcada para meados de setembro. Diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo
TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (26) que os dados indicam que a economia brasileira parece estar em um estágio distinto da economia norte-americana — que começou a dar sinais de moderação.
“A atividade está aquecida, se mostrando dinâmica no Brasil (…) Tem mostrado bastante dinamismo”, afirmou ele, durante participação em evento de comemoração dos 125 anos do Tribunal de Contas do Estado do Piauí, em Teresina (PI).
Ele citou os seguintes indicadores:
menor desemprego dos últimos dez anos;
renda cresceu 12% frente a 2022 e bateu recorde;
crescimento do credito por seis meses seguidos, já passando atingindo a marca de 10%;
emissão de debentures (títulos da dívida) foi 2,5 vezes maior no primeiro semestre de 2024;
maior ocupação da capacidade instalada da indústria em 10 anos;
grandes bancos falando em alta do PIB acima de 3% em 2024;
Prévia do PIB do BC de junho surpreendeu, mostrando atividade aquecida;
Serviços têm o maior crescimento dos últimos dois anos.
Segundo ele, a função do Banco Central, neste momento, é fazer com que esse crescimento da demanda “não esteja ocorrendo de maneira desordenada com a oferta, que vá produzir um processo inflacionário, que vá corroer esta renda que vem crescendo.”
Galípolo observou que, mesmo com uma projeção do mercado de que os juros serão maiores, nos próximos anos do que o estimado anteriormente, as expectativas de inflação do mercado seguem “desancoradas”, ou seja, acima das metas de inflação.
“Por isso que o BC interrompeu seu ciclo de cortes [de juros] e ficou dependente de dados. Vamos consumir os dados a cada reunião do Copom para poder tomar suas decisões. E abertos, com todas as alternativas na mesa de política monetária [sobre taxa de juros], para que a gente possa tomar sua decisão”, acrescento o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo.
Veja as explicações do BC sobre a taxa de juros
No fim de julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve a taxa básica de juros da economia foi mantida inalterada em 10,50% ao ano. Foi o segundo encontro seguido de manutenção da Selic.
Na semana seguinte, o BC informou que estar mais preocupado com a alta do dólar (que já se reverteu nas últimas semanas), e seu impacto na inflação futura, e informou que “não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.
O Copom também avaliou que há uma “percepção mais recente” dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, a regra para as contas públicas, junto com outros fatores, e avaliou que isso “vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos (como o dólar e juros futuros) e as expectativas (de inflação, que estão em alta)”.
Por conta disso, avaliou que as projeções de inflação para os próximos anos têm subido, e que o cenário atual é marcado por mais riscos, sendo “desafiador”. Acrescentou que o desenrolar desse cenário é importante para definir os próximos passos sobre a taxa de juros da economia.
A próxima reunião do Copom sobre juros está marcada para meados de setembro.
Como as decisões são tomadas
Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, no sistema de metas de inflação, o Banco Central olha para o futuro, e não para a inflação corrente, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste ano, e também para o segundo semestre de 2025 (em doze meses).
A meta de inflação deste ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%;
A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida;
Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 4,25% e, a de 2025, 3,93%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos.
As previsões do mercado financeiro subiram em relação ao patamar vigente, por exemplo, há três meses atrás. No começo de março, a projeção dos analistas estava em 3,74% para a inflação de 2024 e em 3,50% para o IPCA do próximo ano.
Em março, o Banco Central estimou que as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência estavam em em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. Já na última semana, o BC estimou uma inflação de 4,2% para 2024 e de 3,6% para 2025.
Com isso, as projeções dos analistas, e também do BC, estão se distanciando das metas centrais de inflação, fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), e se aproximando do limite superior da banda das metas de inflação.
O BC informou já estar olhando para seis trimestres adiante, tendo por base o sistema de meta contínua de inflação de 3%, ou seja, para o período de doze meses até março de 2026. Nesse caso, a inflação estimada está em 3,4% (com juros recuando ano que vem) e de 3,2% (com Selic estável durante todo período).
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