Estudo da EY mostra que famílias têm eliminado a compra de itens supérfluos e aumentado o consumo de produtos de marca própria e de itens essenciais em uma tentativa de evitar o corte de produtos considerados importantes em sua cesta de consumo. Comércio no calçadão de São José dos Campos
Claudio Vieira/PMSJC
A instabilidade macroeconômica e a incerteza em relação ao mercado de trabalho aumentam o pessimismo dos brasileiros nos próximos meses, independentemente do resultado das urnas.
É o que mostra a 10ª edição do estudo Future Consumer Index (FCI), produzido pela EY e que analisa o comportamento de consumo em diversos países do mundo.
Se, em outubro de 2021, 50% dos entrevistados tinham perspectiva positiva para os 3 ou 4 meses seguintes, esse número caiu para 33% em julho deste ano.
No caso do Brasil, a principal preocupação dos entrevistados no curto prazo é a deterioração do ambiente macroeconômico. A alta da inflação, em especial no preço dos alimentos, deixa 73% dos entrevistados extremamente preocupados com os custos de produtos e serviços básicos. Isso faz com que 42% se preocupem com o acesso às necessidades básicas e 91% tenham algum grau de preocupação com suas finanças.
Apesar da perspectiva menos otimista no curto prazo, o brasileiro segue com boas expectativas futuras: 79% acreditam que sua vida será melhor daqui a 3 anos.
As gerações Z (12 a 25 anos) e milennials (26 a 41 anos) foram as únicas que superaram o índice geral: a perspectiva futura positiva abrange 91% da geração Z e 88% dos milennials.
Os mais pessimistas em relação às perspectivas futuras são os baby boomers (58 a 74 anos) e a geração silenciosa (acima de 75 anos), com índices de 62% e 24%, respectivamente.
Na visão dos consumidores entrevistados, o cenário deverá continuar em 2023: o custo de vida segue sendo a principal preocupação para o próximo ano, com itens como a alta dos combustíveis (75%), energia/água /serviços públicos (72%), das compras básicas (67%) e de saúde (66%) se mostrando muito relevantes para a formação das expectativas.
Consumidor prioriza novas marcas e produtos essenciais
A alta da inflação diminuiu o poder de compra de grande parte da população e fez com que o preço se tornasse, desde o ano passado, o principal critério de compra. Assim, as famílias têm eliminado a compra de itens supérfluos e aumentaram o consumo de produtos de marca própria (private label) e de itens essenciais, em uma tentativa de evitar o corte de produtos considerados importantes em sua cesta de consumo.
Esse movimento é mais intenso na população de menor poder aquisitivo, em que 67% estão comprando proporcionalmente mais itens essenciais, contra 40% na classe alta.
Além disso, mais pessoas deixaram de comprar produtos não-essenciais – 58% dos entrevistados acreditam que gastarão menos com esses itens nos próximos 3 ou 4 meses e 56% estão comprando somente itens essenciais.
Para driblar os reajustes de preços, 46% buscam novas marcas de produtos e 36% estão trocando marcas tradicionais por marcas próprias (private label), inclusive na cesta básica. As categorias que mais entram nessa preferência são alimentos frescos (58%), cuidados com a casa (56%) e roupas, sapatos e acessórios (40%).
Apesar da intenção de realizar compras alinhadas a seus ideais e aspirações, o preço é um impeditivo para que isso aconteça: 83% dos brasileiros dizem que serão mais cuidadosos com seus gastos futuros e 78% afirmam que serão mais focados no valor do dinheiro.
Meios digitais ajudam na pesquisa de preços
Na busca dos consumidores por opções mais baratas, os meios digitais ganham força como ferramenta de consulta.
Redes sociais, aplicativos e mecanismos de busca são considerados as principais formas de obter informações confiáveis sobre preço e desempenho. Além disso, os brasileiros estão dispostos a fornecer dados pessoais para receber promoções personalizadas (71%) e recomendações de produtos mais baratos (68%).
As gerações mais novas se dizem mais dispostas a compartilhar seus dados, apesar de a preocupação com a privacidade ser similar à das gerações mais velhas (75% contra 78%). Além disso, 54% se dizem preocupados com a segurança ao comprar produtos e serviços online.
Pandemia mudou hábitos
A ideia de retorno ao cotidiano nos moldes pré-pandemia parece descartada. Os dados da pesquisa mostram que 39% dos brasileiros dizem que vão ficar mais tempo em casa e 42% pedirão mais produtos online no futuro, ao mesmo tempo em que 35% voltarão a visitar lojas físicas como faziam no passado.
Menos dinheiro e mais digital
O avanço da digitalização também se reflete na hora de pagar o produto adquirido. No total, 73% dos respondentes pretendem usar menos dinheiro vivo em suas compras nos próximos três anos.
Além disso, 20% usaram moedas digitais nos últimos 3 meses, mostrando uma mudança de comportamento e de aceitação das novas modalidades de pagamento.
Pagamentos instantâneos, como o PIX, ganharam espaço, ao mesmo tempo em que soluções como carteiras digitais e cashback se tornaram elementos mais importantes na decisão de compra dos consumidores.
Para os consumidores, o uso conjunto de canais físicos e digitais agrega valor à experiência de compra.
Embora 37% dos entrevistados considerem que as marcas são importantes na decisão de compra, essa importância está sujeita à possibilidade de transitar sem atritos do físico para o digital e vice-versa.
Canais de compra por categorias de produtos
Reprodução
Ainda que 46% dos entrevistados acreditem que farão compras online com mais frequência no curto prazo, eles consideram que no futuro o principal canal de compras de alimentos serão as lojas físicas. Nos demais segmentos do varejo, o consumidor já se enxerga comprando predominantemente online.
De acordo com o estudo, nesse período de pós-pandemia, o crescimento do digital perdeu força, em parte pela forte base de comparação, mas principalmente devido à queda do poder de compra dos brasileiros.
“Mesmo tendo crescido menos, o digital continua tendo grande importância para o contexto competitivo das empresas, uma vez que o consumidor transita muito bem entre canais físicos e digitais e, especialmente em categorias de maior valor agregado, o digital tem um papel chave no processo de decisão de compra”, informa o estudo.
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