Quem analisa e explica como isso afeta o investidor é o professor Ricardo Rocha, do Insper. Com a sinalização do Banco Central sobre uma possível queda da inflação, há grande propensão de redução da taxa Selic. Nesse cenário, como ficam os investimentos de renda fixa ou variável? Quem analisa e explica como isso afeta o investidor é o professor Ricardo Rocha, do Insper.
1. Que fatores externos e internos têm motivado a previsão de uma queda na Selic ao longo de 2023?
Internamente, a inflação está dando mostras de recuo e a demanda agregada (total gasto em bens e serviços domésticos em uma economia) está baixa. Externamente, os preços internacionais e commodities, apesar do conflito entre Rússia e Ucrânia, aparentemente recuaram. Então, o Brasil tem uma situação fiscal, comparada com a de outros países, melhor, e isso faz com que o Banco Central (BC) comece a reduzir a taxa. Para se ter ideia, a última reunião do Copom, ocorrida em 20 e 21 de setembro, definiu a taxa Selic em 13,75%. Adicionalmente, elegendo o presidente da república e mantendo essas condições de preço, o BC deve sinalizar uma redução. Isso, é claro, se o discurso do presidente, seja ele qual for, estiver na direção da responsabilidade fiscal.
2. Se confirmada, de que forma essa queda afeta positivamente a renda variável?
O Brasil tem tudo, inclusive em função da guerra, para se beneficiar e receber investimentos. Isso porque ele está distante do conflito, é exportador de alimentos, e o mundo precisa disso nessa saída da Covid. Assim, é bem provável que exista um aumento de investimento estrangeiro em bolsa, valorizando nossas ações. Isso também leva a um aquecimento do mercado de ofertas públicas, o chamado IPO (do inglês, initial public offering ou oferta pública inicial), quando da abertura do capital de uma empresa.
3. Como os investidores de renda variável podem se preparar para esse novo cenário evitando eventuais perdas?
Embora o interesse em renda variável aumente, as perdas fazem parte do processo. Por isso, é preciso olhar quais setores podem ser beneficiados num contexto de queda de juros. As ações ligadas ao consumo, principalmente ao agrobusiness, são bons exemplos dessa valorização. Já a valorização das ações de companhias ligadas ao Estado depende de quem vencer a eleição e qual será seu discurso sobre as estatais.
4. Quais são os impactos da queda da Selic na renda fixa?
Quem conseguir se posicionar antes da queda da Selic, se confirmado o fato, pode fazer uma alocação maior em títulos prefixados, que vão se valorizar. O inverso também é verdadeiro: se a Selic não cair, investidores em títulos dessa natureza podem perder dinheiro. A maior atenção, aqui, é com investimentos atrelados ao IPCA no curto prazo, porque pode ser que a inflação continue caindo muito rapidamente. Assim, para se proteger, o ideal é focar em investimentos de pelo menos três anos.
5. Que eventos devem ser considerados para analisar os rumos da economia?
O primeiro é o resultado da negociação entre Rússia e Ucrânia, ou seja, se haverá ampliação da guerra, impactando as commodities. Já a questão interna é uma seara mais política. Tenho a impressão de que a responsabilidade fiscal em relação à economia vai prevalecer, e como o Banco Central é independente, estamos blindados de qualquer tentativa de manipulação em relação à taxa de juros.
6. Como o fim do conflito entre Rússia e Ucrânia afetaria o mercado e as projeções da Selic?
Traria mais tranquilidade em relação ao petróleo e ao gás, com redução de preços por conta da normalização da oferta, assim como na oferta de grãos.
7. Em um cenário de juros baixos, quais são os investimentos mais recomendados?
Sempre existem oportunidades em todos os mercados e em qualquer cenário. Por isso, não existe um momento certo para investir em renda fixa, variável, ativos alternativos ou investimentos no exterior. Na verdade, o que determina se um investimento é adequado é o momento de vida do investidor.
8. Qual é o erro mais comum em situações como essa?
Acreditar que o cenário não pode piorar. Ele pode. Por isso, é preciso cautela. Não significa ser pessimista, mas saber quanto de risco se está disposto a correr.
9. Para você, inteligência financeira é…
Se planejar, ter uma reserva de emergência, construir uma reserva de oportunidades, ter consciência do risco, clareza sobre os objetivos dos investimentos e a capacidade de perda.
Não deixe de acompanhar as tendências econômicas e as análises do cenário político aqui.
g1 > Economia
Comments are closed.